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segunda-feira, 30 de julho de 2007

O Grande Dia!

Quase o grande dia!

Quando entrei na 38ª semana senti aquele frio na barriga. Pensava: “Nossa! O Lucas pode nascer a qualquer momento”. Nesta altura as pessoas já começavam a perguntar o tempo todo se não ia nascer, se nasceu, se eu ainda ia esperar muito. Como assim? Sempre respondia pacientemente que quem diria a hora certa de nascer seria o Lucas.

Com 39 semanas assustava as pessoas na rua. No banco, correio ou qualquer outro lugar escutava “Ai meu Deus! Vai nascer aqui!” Me divertia com o exagero das pessoas. Confesso que o peso, cansaço e, principalmente, o inchaço quando ficava minutos em pé já me incomodavam. Conversei com o Lucas e disse “Filho, mamãe e papai estão prontos, esperando você. Queremos muito te ver. Quando você estiver pronto saiba que nós também estamos”.

Dois dias antes de fechar a 40ª semana estava no mercado com meu marido quando as contrações começaram a acontecer como a médica indicou, duravam pelo menos um minuto e aconteciam pelo menos 3 num intervalo de 10 minutos. Meu marido ficando nervoso e eu querendo terminar as compras. Só falava para ele: “andar ajuda o trabalho de parto”. Cheguei em casa, liguei para a médica mas as contrações foram espacejando. Fomos no consultório por precaução mas realmente foi alarme falso.


Será o grande dia?

Dois dias depois, quando completava a 40ª semana, fui na médica. Ela disse que o colo do útero estava mais fino mas nada indicava trabalho de parto. Também afirmou que dali para frente teríamos que realizar um monitoramento maior, solicitou uma ultra na sexta e um ecocardiodoppler no sábado. Ficou combinado também de realizar visitas diárias no consultório na semana seguinte. Na saída ela brincou “Isso não quer disser que você não possa entrar em trabalho de parto a qualquer instante. Você pode chegar em casa e entrar em trabalho de parto e voltar.”

Ô boca grande! Quando estava chegando na Barra da Tijuca, por volta das 10:30h, comecei a sentir cólicas. Entrei no Downtown para buscar o kit de berço na loja da minha prima (Little Ju). Estava acompanhada pela minha mãe e meu sobrinho e o papo corria solto. Primeiro eu culpei a pressão na bexiga e corri para o banheiro mas desta vez não senti alívio. Me sentia inquieta e não parava de andar de um lado p/ o outro da loja. Sentava mas em seguida levantava.

Kit do berço no carro, fomos para casa. Nesta altura os retentores de velocidade do Downtown me causavam grande incomodo. O mesmo com os buracos na estrada. Minha mãe me conhecendo bem, percebeu que estava calada e perguntou o que estava sentindo. Quando respondi “cólica” ela disse: “Liga para a médica! Você está em trabalho de parto!” Eu ainda relutei por uns minutos com receio de ser outro alarme falso. Já estávamos quase no Recreio quando falei com a médica e ela pediu que retornasse ao consultório.

Minha única aflição naquele momento era conseguir falar com meu marido. Ele estava dormindo em casa. Eu mesma esqueci de colocar o celular do lado dele antes de sair. Tocava, tocava e nada dele acordar. Tentei o telefone de casa e nada. Até tentei ligar para o celular do porteiro. Depois de algum tempo finalmente consegui. Pedi que ele me encontrasse na casa da mãe dele pois a esta altura minha mãe já tinha feito o retorno para voltarmos para Copacabana. Combinei com ela de ir com meu marido. Ela iria para casa dar almoço para o meu sobrinho e eu daria notícias do consultório.

Eram umas 11:30h e eu estava morrendo de fome mas minha mãe não me deixava comer por receio de virar uma cesárea. Cesárea nem passava pela minha cabeça apesar de ter me preparado para aceitar se necessário fosse.

Chegando no consultório, a sala de espera cheia, todos já pareciam estar avisados da chegada de uma grávida em possível trabalho de parto. O mais engraçado era que minha respiração mudou naturalmente, todos querendo conversar, saber como estava, o nome do bebê, etc. e eu querendo ficar calada. Sorria e respondia baixinho com calma às perguntas.

A médica me examinou e confirmou: - Você está em trabalho de parto. Como eu tinha quase certeza já avisei a maternidade. Pode ir para lá. Eu irei em seguida.

Ela ainda me passou umas diretrizes. Pediu que fizesse força quando sentisse as contrações, pediu que tomasse cuidado para não usar a força no pescoço e disse que ainda não apresentava dilatação.

O caminho para a maternidade foi a pior parte do trabalho de parto. Os buracos no asfalto causavam um forte incomodo. Avisamos aos futuros avós, aos padrinhos e a uma amiga de Brasília. Pedimos pensamento positivo.


Na maternidade

Quando cheguei na maternidade (13:15h) tive que aguardar muito tempo a autorização do plano de saúde. Eu não conseguia ficar quieta, estava calma mas não ficava confortável sentada. Meu sogro chegou quase junto conosco mas gentil e carinhoso como sempre logo se retirou para me deixar a vontade.

Já no quarto a enfermeira pediu que colocasse aquela “linda” camisola de hospital. Tirou minha pressão e veio com a tal lavagem. Sinceramente devia ter ligado para médica e pedir para cancelar pois isso não adianta absolutamente nada. Só me causou um momento de sofrimento (risos).

15hs e nada da minha médica. Eu fazendo força nas contrações e as enfermeiras em pânico falando para não fazer porque o bebê ia nascer. Meu marido começou a ligar para ela quando a bolsa estourou.

A médica chegou um pouco antes das 16hs. Apresentou a equipe, me examinou, e disse que estava com apenas 1cm de dilatação. Na opinião dela a enfermeira tinha se enganado e minha bolsa ainda não tinha estourado. Me deu mais diretrizes e disse que dependia do meu esforço para que o trabalho de parto evoluísse. Saiu para solicitar que me levassem para o pré-operatório.

Me levaram para uma salinha pequena no centro cirúrgico. Ela veio me examinar e me deu os parabéns pois estava com 3cm de dilatação, disse que foi uma boa evolução. Foram para uma sala ao lado e eu fiquei só com o meu marido.

Um pouco depois a bolsa realmente estourou. Foi uma sensação estranha e depois de um tempo comecei a tremer. A anestesista veio me olhar e me pediu que relaxasse mais entre as contrações ou ficaria cansada. Também pediram para me mudar de maca pois estava ensopada.

Logo após esta mudança comecei a sentir dor (sim, até o momento para mim eram apenas cólicas). Era uma dor diferente e eu tremia um pouco mais. Neste momento, neste único momento, duvidei se conseguiria. Comentei com meu marido, a resposta como sempre não poderia ser melhor: - Você consegue. Você se preparou para isto. Você é muito forte. Você consegue. Fiquei mais calma mas pedi que chamasse a médica.


A surpresa

Minha médica veio me examinar. Disfarçou sua surpresa e chamou sua assistente e a anestesista. Logo depois chamou meu marido. A dor intensa que comecei a sentir tinha uma justificativa.

A Dra. Márcia me explicou que eu tinha uma membrana, resultado de má formação congênita. Esta membrana ficava colada na parede direita mas com o trabalho de parto ela inchou e se deslocou. Este deslocamento estava impedindo a dilatação completa e impediria a passagem do Lucas.

Foi uma grande surpresa pois todos os ginecologistas que me examinaram nunca a detectaram. Neste momento sim senti muita dor. Foi preciso examinar bem a tal membrana, ver se teria passagem etc. Foi um tal de pega membrana, move para um lado, move para o outro. Esta carne tinha uns 4 cm de espessura. Comecei a suar com a dor.

Me levaram para o centro cirúrgico, a medica chegou a ligar para outro colega de trabalho e pedir a opinião. Reiniciou o puxa para o lado, puxa para o outro. Chamou meu marido e mostrou que já dava para ver a cabeça do Lucas lá no fundo. Ela me explicou como poderia tentar o parto normal. Teria que levar anestesia, cortaria a membrana com o bisturi elétrico e precisaria da minha colaboração pois o Lucas precisaria nascer rapidamente para ela me dar os pontos na tal membrana. Em momento algum senti medo ou angústia. Talvez por confiar muito na capacidade da profissional. Ela conversou com a anestesista e disse que deveria estar reparada caso virasse uma cesárea.

Todos falam com horror da epidural mas não senti dor, apenas alívio. A anestesia aliviou a dor mas continuava sentindo as contrações. Senti uma sensação diferente quando usou o bisturi, nada de dor. Dra. Márcia deu o ok. Agora dependia de mim.


Momento mágico

Foram 3 contrações. 3 esforços e senti o Lucas passando. Que sensação indescritível! Meu marido ao meu lado. 17:50h vi meu bebê lindo, todo sujinho. O pediatra retirou o cordão do pescoço rapidamente e o colocou sobre mim. Ficamos eu e meu marido pasmos namorando nosso lindo filho. Relembrar este momento traz uma emoção que parece não caber em mim, um sorriso maior do que meu rosto, o coração pulsando de felicidade como nunca antes.

Como ainda precisava tomar os pontos da danada da membrana o levaram para o berçário. Meu marido já babando grudado nele.

Logo depois dos pontos me levaram para o quarto. Não cabia de ansiedade de ter o Lucas ao meu lado. Logo depois ele chegou faminto. A enfermeira o colocou no meu seio. A primeira mamada, o segundo momento mágico. Outro capítulo de muitos que virão.